Mundo Higeia

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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Viver Sem Dinheiro

“Agora não tenho nada.
Sou uma pessoa sem tecto,
Mas, sou uma pessoa livre.”
"Minha actividade tem como missão chamar a atenção sobre a injustiça, é esta a minha vocação.
 NÃO NECESSITO DE FERIAS.
Esse é um dos erros da nossa sociedade,
Que separa lazer e trabalho, porque a maioria faz o que não gosta para GANHAR dinheiro e GASTA-LO em coisas que não necessita”
Heidemarie Schwermer

Esta mulher, Heidemarie cobrou dinheiro na publicação do seu livro “ Living Without Money”  mas reparti-o entre mulheres mal tratadas e diversas associações de ajuda, explicando que ela não necessitava dele.

Sua história começa em 1994, quando aprendeu o intercâmbio de tarefas, não de dinheiro: se tu cozinhas para mim, eu corto-te o cabelo…etc. Este tipo de transacções é um sistema diferente de entender a Economia.
Este tipo de “vida” é normalmente seguido por pessoas de carácter forte e com uma grande confiança em si mesmos, oferecem o que sabem fazer e gostam, não permanecem num trabalho que não as motiva e que não tem nada a ver com elas.

Ao mesmo tempo tem um efeito absolutamente negativo contra a estrutura baseada no poder do dinheiro-divida: como é uma pratica baseada na confiança mutua e na solidariedade, destroça os convencionalismos bancários baseados no “tanto tens, tanto vales” Neste sistema, esta frase perde o significado pois todos sabemos fazer algo, logo todos somos igualmente importantes.
Em 1996, Heidemarie assumiu o compromisso de levar a serio a sua ideia de VIVER SEM DINHEIRO. Deu seus móveis, seus livros, alugou a sua casa, passando seus filhos a receber a renda. E, começou a viver de acordo com os seus princípios de troca de tarefas: a troco de cozinhar para cinco pessoas, ganhou um tecto, a troco de algumas terapias teve internet e telefone móvel. E se considera tremendamente feliz.

Sua postura não é fruto do momento, pois fez uma análise fria e racional do Mundo onde vivemos.
Estas são suas palavras, numa entrevista que deu para La Contra de la Vanguardia, local onde retirei este conteúdo.

-Quanto dinheiro, você tem?
- Nada de nada.

- Nem um só Euro?
- Meus dedos não tocam numa moeda! Vivo sem dinheiro á seis anos.

 - Seis anos? Como é que come?
- Me dão num restaurante biológico. Como troca, eu cozinho, limpo…

- E a Roupa?
-Sei de pessoas com as quais posso trocar.

 - Mas, tem um colar em volta do pescoço?
- Uma prenda. Eu também recebo presentes.

- O que troca?
- Meu tempo, minha ajuda, minha companhia, minhas habilidades… troca coisas destas em troca de um bilhete de autocarro. No outro dia, ajudei uns pais a resolver um conflito com seus filhos e em troca me deram bilhetes para a ópera.

 - Entende de crianças?
- Fui professora de escola primária e deixei, depois fui psicoterapeuta e também deixei.

 - Porquê?
- Eu fui professora, porque queria melhorar o Mundo. Mas vi que não ajudava em nada, o sistema educativo está concebido para alimentar o intelecto das crianças, e não o Coração.

 - Não está a exagerar?
- Ensina-se as crianças a competir em algo, para mais tarde conseguir um trabalho onde ganhem dinheiro, muito dinheiro. Mas será a Vida só isto? Vejamos! Tudo está focado para se Ter e não para Ser.

 - Mudou da pedagogia para psicologia?
- Sim. Me especializei em terapia gestacional e ganhava muito dinheiro com minhas consultas. Tive 15 carros sucessivos, uma casa cheia de coisas…e tampouco assim me pareceu que o mundo melhorava…

 - E deixou também a psicologia.
- Deixei tudo. Fui presenteando vizinhos e amigos com meus livros, carro, meus móveis, meus pertences… e quando a sala de casa ficou vazia…me pus a dançar, a dançar…! Senti-me tão leve, tão livre, tão feliz…

 - O que fez com suas contas bancarias?
- Minha mãe sempre dizia: “ como eu gostava que me saise a lotaria para poder oferecer dinheiro!” Isso foi o que eu fiz com o meu dinheiro, dividi-entre os meus filhos e cancelei minhas contas.

 - Ninguém a acusou de louca?
- Sim, muitas vezes. Mas quero referir que não incentivo ninguém a nada.

 - E porque que fez isto?
- Comecei a perguntar-me se realmente necessitava de tantas coisas, de comprar e comprar. E me convenci de que não precisava, e que é possível viver sem dinheiro.

 - Mas o dinheiro é um símbolo das coisas, é um invento prático e comodo.
- Foi uma evolução sim, é verdade, muito útil para o intercâmbio…até que se converteu num valor em si mesmo, em que acumula-lo é a meta, e sua possessão indica o valor das pessoas: “tanto tens, tanto vales” e eu estou contra!

 - Quando sua casa ficou vazia, o que fez?
- Abandonei-a. Uns amigos foram de viajem e me deixarão na sua em troca de regar-lhes o jardim. Agora durmo num sótão de uma oficina de uns amigos. Eu lhes limpo a oficina, onde também me cedem o uso de casa de banho.

 - Não é uma vida muito dura?
- Ao princípio passei mal. Não queria pedir ajuda a ninguém. A solidão…foi dura. Mas pouco a pouco, fui fazendo trabalhos em troca de coisas, e criando assim uma rede de ajuda…

- Como funciona isso?
- Fundei com outras pessoas, em Dortmund, um centro de intercâmbio de “dar e tomar”, cada um dá o que tem e toma o que necessita. Aulas de cozinha por aulas de línguas, um par de horas de internet por um corte de cabelo, pintar uma divisão por arranjo no jardim…

 - Não me imagino a viver sem um tostão…
- Pois eu, agora, sou mais rica que nunca! Tenho de tudo. E faço o que me apetece…

 - E tenho que pagar o colégio dos meus filhos.
- Não lhe peço que faça como eu! Mas sugiro-lhe pensar nisto: posso prescindir de algumas coisas pelas quais hoje me esforço tanto?

 - Seguramente que sim. Você parece Jesus dizendo: “ se tens duas túnicas, oferece uma” ou “ as flores do campo não necessitam de vestidos, nem os pássaros de casas”, Não é?
- Sim…eu abandonei a “segurança” da Sociedade!

- Imagine que fica muito doente.
- Não imagino isso! Se imaginas algo, induzes o seu acontecimento… e se queres algo, logo o recebes. Entre meus amigos existem médicos que cuidariam de mim, e eu logo os recompensaria com meus trabalhos.

 - Sendo assim, não paga impostos.
- Não. Como não tenho casa fixa, não tenho direito a voto. Sou uma “sem tecto”

 - Alguém pode dizer-lhe: “ que é uma mulher anti-social e não cooperativa com os seus direitos”
- E já mo têm dito. Que sou uma vadia, uma aproveitada… é muito injusto. Minha ideia é que podem fazer-se coisas, ajudar-se, trabalhar muito, mas sem dinheiro. E é somente isso que eu faço. Me verem faze-lo, parece que dá raiva a muita gente.

 - Descreva-me como seria um Mundo ideal?
- Um mundo de indivíduos responsáveis: cada um toma o que necessita e dá logo o que pode, toda a gente tem algo a oferecer! Por exemplo, nesta cafetaria eu tomaria um café e iria embora… noutro local, eu daria algo, um serviço, um trabalho, uma ajuda a outro. Seriam menos horas encerradas trabalhando em fábricas e proporcionaria mais as relações entre as pessoas! Assim acabariam os abismos entre ricos e pobres.

 - Primeiro deveríamos de ser todos santos.
- Todos devemos melhorar a nós mesmos: isto é muito importante e é viável.

 - E o que é que faz com o dinheiro que ganha com o seu livro?
- Reparto com outros. E agora peço para que me paguem o que escrevo com serviços.

 - Você vai suportar isto até ao final?
- Sim. Gosto da minha Vida! Escrevo, faço cada dia o que me apetece: VIVO. Sou muito rica!

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