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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Com quem ou com o quê… você se identifica?

Prof. Hermógenes
Conheci um homem rico que mudava constantemente de automóvel, adquirindo os modelos mais recentes e dispendiosos. Adorava-os como um qualquer apaixonado. Dava-lhes um tratamento extremamente cuidadoso, sendo o brilho, particularmente uma obceção.
Uma noite, no cinema, alguém fez um risco no capô da sua última aquisição. O pobre homem adoeceu de raiva. Ele adoeceu mesmo. De raiva a quem fizera aquilo, e de dor por ver estragado o seu carro. O risco não fora apenas no automóvel, mas nos seus próprios nervos, pois, em rigor, o carro não era dele – o carro era ele mesmo. Dizia Cristo: “onde estiver o vosso tesouro, aí está o vosso coração” lucas 12:34.
Aquele pobre homem abastado serve como símbolo da identificação.

A sua tranquilidade, saúde e felicidade dependiam “dele” – do carro.
Era portanto uma pessoa muito vulnerável.
 Semelhantes a milhões de outros seres humanos.
Era vulnerável como o seu carro. Problemas mecânicos, sujidade, arranhões, batidas, circunstancia a que qualquer automóvel está sujeito, atingiam-no psicossomaticamente, isto é, faziam-no sofrer mental e organicamente.

A identificação mais normal, isto é, mais generalizada, é aquela que temos com coisas externas e mais ou menos vulneráveis, como o automóvel.
Os homens “normais” continuam a fechar os ouvidos à sapiência de Jesus: “não acumuleis para vós tesouros sobre a Terra…” persistem, sem vislumbrar que colocam os seus queridos tesouros “ onde a traça e a ferrugem corroem e onde os ladrões escavam e roubam” Mateus 7:19.

Podemos identificar-nos com um objeto, com outro ser humano, com a namorada, com um filho, com o emprego ou a fama. Continuamos a identificar-nos com as coisas quando nos sentimos infelizes com a sua perda, desgaste ou corrupção.
A felicidade de muitos depende, às vezes de acontecimentos em si próprios insignificantes, como a vitória do clube de futebol, ou do partido político, mas também a manutenção de um emprego ou posição de destaque social ou artístico, com o triunfo das ideias ou ideias que professamos.

O “normal” é o individuo sentir-se miserável e perdido só porque ficou doente. Muitas senhoras da alta sociedade ficam furiosas só porque os cronistas deixaram de citar o seu nome nas colunas sociais.
Aquilo que nos dá infelicidade quando nos falta é objeto de identificação para nós. Identificamo-nos com o que, ansiosa e desastrosamente, queremos conservar, melhorar, desenvolver…
No fundo, somos seres perdidos de nós mesmos porque nos identificamos com uma variedade sem conta de coisas, posições e pessoas, que nos são exteriores.
A nossa segurança e paz dependem de tudo aquilo com que nos identificamos.

Segundo o Ioga, uma das maiores fontes de sofrimento tem raízes na identificação com os níveis mais densos e materiais do nosso ser.
 Os que se identificam com o corpo, e somos quase todos a faze-lo, costumam dizer: “estou doente”.
O Iogue, que já ultrapassou a fase de identificação com o corpo, usa outra linguagem e diz: “ o meu corpo está doente”.
O Iogue na sua sabedoria, diz que é o seu corpo que morre – de fato, sendo este um agregado de substâncias, algum dia se desfará – mas afirma que ele, na Realidade, é o Eterno, o Imutável, o Imóvel, o Perfeito, e portanto nunca morrerá.
Pode haver medo da morte para quem pensa assim?

Enquanto um homem comum adoece com uns arranhões infligidos à pintura do carro ou à sua saúde, o sábio, não identificado com o grosseiro e o falível, mantem-se imperturbável, identificado com o incorruptível e o imortal. Enquanto o pobre homem se identifica com coisas e é joguete ao sabor das circunstâncias incontroláveis na tempestuosa atmosfera da matéria, o Iogue vivendo no Espirito, não se deixa apanhar nas malhas da ansiedade e não cai prisioneiro da “coisa”.
Uma das principais vias do Ioga, ou União, é a não identificação com o mundo de Deus e sim a identificação com o Deus do Mundo.

Este percurso é a Libertação.
É a iluminação quanto ao processo psicológico.
À medida que avança nesta não identificação, o homem vai se tornando cada vez mais invulnerável aos acontecimentos, às coisas, aos fatos e ás pessoas.
Uma pessoa que não costuma ir ao cinema, quando o faz desfruta e sofre, com as vitórias e as derrotas do herói com o qual se identifica. Os seus nervos, glândulas e vísceras são profundamente sacudidos pelos acontecimentos do mundo mítico criado pelo filme. Alguém de espirito crítico e amadurecido, conhecedor da técnica de arte cinematográficas, sabe “dar o desconto” e assiste ao filme, dizendo para si mesmo “não é comigo, eu não sou aquele personagem”; “tudo isto é Ilusão”.

O mundo que nos rodeia só é realidade na medida em que nos identificamos com ele, pois impõe-nos dor ou prazer, pesar ou alegria, confiança ou medo…se conhecermos o que é realmente o mundo, aproximar-nos-emos da equanimidade do espetador frequentador de cinema, sem sofrer nem gozar, sem tentar fugir ou buscar, sem medo, sem odio e sem tédio.

Reflexão: eu não sou o meu emprego. Mesmo que venha a perde-lo, continuarei invencível.
Eu não sou a minha casa, o meu automóvel, as minhas propriedades ou qualquer outro “tesouro” que andei a a cumular, pois continuarei invulnerável se o destino mos tirar.
Eu não sou nada disso.
 Não sou o meu corpo, que adoece, envelhece, definha, morre. Não sou nada do que faz tantos sofrerem.
Eu sou Imortal, Perfeito, Eterno e Infinito Principio.
Tenho sofrido em consequência da miopia espiritual que me fazia confundir-me com tudo o que me cerca.
Hoje, curado, vejo cada vez mais que Eu Sou TU, Pai Celestial.
Os meus tesouros já não são “meus”. O meu tesouro és Tu, que Sou Eu.
Os meus tesouros são os do céu, que nem a traça, a ferrugem ou os ladrões alcançam…

Copiado do livro Ioga para nervosos de Hermógenes

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